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quinta-feira, 7 de abril de 2011

janela para um poema sem fim

por Eliane Silvestre


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por tras de paulistas janelas

por onde entra meu olhar candango

extasiado com a infinidade delas

está um joão ou uma maria

o joão que não para e faz de tudo

a maria mais romântica que anseia poesia

o joão que não fala, é quase mudo

a maria tão matraca que joão anseia ser surdo

o joão que é médico e sai com sono pro plantão

a maria que é doente e vai operar o coração

o joão operário da ópera que é tenor,

a maria bailarina que dançando opera poesia com amor

o joão que come a comida fria da marmita

a maria que para ficar bonita, come e vomita

o joão que trapaça em sua vida de senador e não tem sono

a maria pobre porém honesta que tudo devolve pro dono

o joão que só faz sexo por amor

a maria que quer é fazer não interessa com quem for

o joão que é nordestino

a maria que nega qualquer destino

ele veio do nordeste pra cá no caminhão do sonho

ela nasceu e morrerá aqui porque acha o mundo medonho...

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o joão, a janela, a maria

a janela, joão e maria, poesia

a janela, a maria, o joão

minhas janelas da carochinha

rumo a um fim andam na contramão

do meu olhar-janela, eu,poeta, espio sozinha

joões e marias que entram na janela do tempo

e atiçam meus olhos a voarem com o vento

quarta-feira, 6 de abril de 2011

LEVE

por Eliane Silvestre



Tocar.
Estocar alegria.
Tocar, cantar.
Há canto no ar.
Em cada canto,
há mar,
há risos,
há lar.
Asa é minha casa.
Há travessia
sem rumo.
Escoltar a alegria,
meu prumo.
Não mais aceitar
ter mar
no olhar.
Estou leve,
mui leve...
me leve
vou, Ar
:)

sábado, 2 de abril de 2011

NO TREM, DE PASSAGEM

por Eliane Silvestre



Saiam pronomes possessivos!
Com vocês não quero amizade!
Minha busca é afastar-me dos abismos
do apego e da vaidade.
Meu, minha,
meus, minhas:
ilusões passageiras.
Enquanto o trem corre na linha,
não sei em que estação fico eu.
Não importa!
Nem quero pousar meu olhar na porta.
Dela poderá advir o breu,
Aos que entram, “gutiguti”, dou boas-vindas.
Aos que vão e amo,
o pranto engano.
Se vida tenho ainda, se não é finda,
obrigação tenho eu neste trem
de tornar minha viagem linda,
enquanto a parada final não vem.