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segunda-feira, 27 de junho de 2011

TRÂNSITO LIVRE

por Eliane Silvestre

No engarrafamento,
enquanto   espero o carro voar,
voa  o meu pensamento. 

Meu  corpo está engarrafado,
mas   não aprisiona minh´alma
que  entra na escola ao lado. 
A janela da sala está aberta
e me deixa ver rostinhos conhecidos.
No passado, dou uma incerta:
quebra-queixo, maria-mole,
imagens, cheiros, gostos de tempos idos. 
Tempo em que observava as bolhas de sabão
e que mesmo sabendo que não durariam
 tentava caçá-las para vencer com a mão. 
Meus olhos  de criança
outras bolhas também buscavam.
Ainda trago na lembrança
as bolhas que as gotas da chuva formavam
Elas iam                                   e                                 vinham na poça,
de submarinos eu as chamava:
“- Vou viajar neles quando ficar moça!”
Até que algo me despertava.
Agora também é assim:
um ruído
e é o fim do passado pra mim.
É o sinal da escola que soa
e minha criança sabe bem o que quer dizer:
no coração infantil é a hora boa
da brincadeira ou lanche que vai fazer. 
Senti  todos  estes  gostos na alma,
tudo enquanto o trânsito estava parado.
Para mim mesma bato palma
e vejo que antídoto do stress
é ser sempre um ser alado.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

BALANÇO

por Eliane Silvestre

O balanço levanta
o sorriso da criança.
O sorriso voa
e também a trança.
Um gritinho ecoa:
grito de alegria.



No chão, uma flor
a tudo assistia
e parecia
que também sorria.
Dançava com o vento.
Se rápido era o balanço,
parecia samba o seu movimento.
Se o impulso era lento,
cerravam os olhos da menina,
que parecia ganhar o céu.  

Enquanto, na flor pequenina,
um beija-flor, aproveitando a pausa,
sugava seu mel.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O BISCOITO ACABOU

por Eliane Silvestre

Saco vazio de biscoito,
no meio de um trânsito infernal,
alheio a tudo dança em oito,
numa coreografia genial...

Oito é o número do infinito...
Infinitos são os que atravessam
e não acham sequer bonito
que sacos vazios os impeçam,
porque estão cheios da esperteza.
Seus dias tropeçam na hipocrisia.
Seus olhos estão cegos para a poesia
e para ainda achar beleza
num gesto de falta de educação,
de alguém para quem a lata de lixo não existia
quando não sobrou mais biscoito na mão.
Sobrou pra mim olhar assim e perceber o belo...
Do lixo vomitar canção.
Toda imagem do cotidiano faz paralelos
e os opostos lindamente
selam seus elos.