Páginas

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CONVERSA COM A BOLHA DE SABÃO

por Eliane Silvestre

Hoje, tomando banho, uma bolha de sabão voou. Eu a segui com os olhos. Observei. Depois cedi minha mão. Ela pousou brilhantemente. Brilhantemente não só por seu brilho, mas porque estacionou com maestria na minha mão. Eu a fitei. Ela também olhou para mim. Parecia querer me dizer alguma coisa. Será alguma coisa relacionada com limpeza? Sou ficha limpa, Dona Bolha! Sou se considerar a carga legal da expressão referente às leis inventadas pelo homem, mas não posso dizer que sou ficha limpa na carga divina da expressão. Se fosse, aqui não estaria. Acredito que se estou aqui tenho muito a aprender para ser um  espírito ficha limpa. Segundo a segundo, pensando em  agir conforme nossa consciência, tentamos não sucumbir à tentação (nada a ver com sexo ou ditas imoralidades, aqui com sentido de ser tentado a sucumbir a todo sentimento negativo), tentamos  ser seres humanos melhores. Eu acredito que todos aqui desejam e buscam ser melhores (cada um sob a sua ótica) ou pelo menos que seus atos sejam condizentes com seus corações. Conforme a ignorância ou sapiência, o barco vai tomando um rumo ou outro no rio da vida. E nos achamos no direito de censurar aqueles que tomam rumos diferentes dos que acreditamos ser o caminho da verdade. Muitos não percebem que melhor do que rotulá-los de imbecis, julgando-se maiores que eles e esquivando-se do contato, o que em determinadas situações justifica-se pelo instinto de sobrevivência, podíamos silenciar a ofensa e pelo menos doar exemplo, conhecimento, ainda que não tenhamos interesse na aproximação, interação.

A bolha estourou. Acordei da viagem. Sorrio quando lembro que Cascão com certeza não teria tido esta oportunidade. Chamo minha criança à responsabilidade. Lembro da entrevista para o emprego. Tenho que sair correndo do banho. Desceu pelo ralo só a sujeira, as fantasias e reflexões deixei aqui.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


ARDER DA TARDE NA PRAIA


Por Eliane Silvestre



Uma tarde malhada
de sóis e sombras.
Um corpo malhado,
molhado
de céu e ondas.
Um olhar parado,
deitado
na linha do horizonte,
quer andar na linha
e, buscando paz,
acha que o mar é a fonte. 

Um outro olhar infantil
também busca
do mar ouvir conselhos,
esquecer o pai vil,
e, nesta tarde d´ouro que ofusca,
deixa ali seu coração de joelhos. 

Num banquinho, um casal briga,
mas a natureza não liga
                            e continua esbanjando poesia:
                            o coqueiro fotografa a areia
                            e ela faz pose, quando ele grita: Sorria!... 

Todos vieram testemunhar
o encontro do céu com o mar...
Há quem acredite no cair da tarde...
Eu não,
com suas cores de fogo,
acho que não cai, arde
e faz chorar de verdade...


(publicado nos livros "Asas e Vôos", Editora Guemanisse/RJ, de 2006)