Hoje, tomando
banho, uma bolha de sabão voou. Eu a segui com os olhos. Observei. Depois cedi
minha mão. Ela pousou brilhantemente. Brilhantemente não só por seu brilho, mas
porque estacionou com maestria na minha mão. Eu a fitei. Ela também olhou para
mim. Parecia querer me dizer alguma coisa. Será alguma coisa relacionada com
limpeza? Sou ficha limpa, Dona Bolha! Sou se considerar a carga legal da
expressão referente às leis inventadas pelo homem, mas não posso dizer que sou
ficha limpa na carga divina da expressão. Se fosse, aqui não estaria. Acredito
que se estou aqui tenho muito a aprender para ser um espírito ficha limpa. Segundo a segundo, pensando
em agir conforme nossa consciência, tentamos
não sucumbir à tentação (nada a ver com sexo ou ditas imoralidades, aqui com
sentido de ser tentado a sucumbir a todo sentimento negativo), tentamos ser seres humanos melhores. Eu acredito que
todos aqui desejam e buscam ser melhores (cada um sob a sua ótica) ou pelo
menos que seus atos sejam condizentes com seus corações. Conforme a ignorância
ou sapiência, o barco vai tomando um rumo ou outro no rio da vida. E nos
achamos no direito de censurar aqueles que tomam rumos diferentes dos que
acreditamos ser o caminho da verdade. Muitos não percebem que melhor do que
rotulá-los de imbecis, julgando-se maiores que eles e esquivando-se do contato,
o que em determinadas situações justifica-se pelo instinto de sobrevivência, podíamos
silenciar a ofensa e pelo menos doar exemplo, conhecimento, ainda que não tenhamos
interesse na aproximação, interação.
A bolha
estourou. Acordei da viagem. Sorrio quando lembro que Cascão com certeza não
teria tido esta oportunidade. Chamo minha criança à responsabilidade. Lembro da
entrevista para o emprego. Tenho que sair correndo do banho. Desceu pelo ralo
só a sujeira, as fantasias e reflexões deixei aqui.
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