por Eliane Silvestre
No engarrafamento,
enquanto espero o carro voar,
voa o meu pensamento.
Meu corpo está engarrafado,
mas não aprisiona minh´alma
que entra na escola ao lado.
A janela da sala está aberta
e me deixa ver rostinhos conhecidos.
No passado, dou uma incerta:
quebra-queixo, maria-mole,
imagens, cheiros, gostos de tempos idos.
Tempo em que observava as bolhas de sabão
e que mesmo sabendo que não durariam
tentava caçá-las para vencer com a mão.
Meus olhos de criança
outras bolhas também buscavam.
Ainda trago na lembrança
as bolhas que as gotas da chuva formavam
Elas iam e vinham na poça,
de submarinos eu as chamava:
“- Vou viajar neles quando ficar moça!”
Até que algo me despertava.
Agora também é assim:
um ruído
e é o fim do passado pra mim.
É o sinal da escola que soa
e minha criança sabe bem o que quer dizer:
no coração infantil é a hora boa
da brincadeira ou lanche que vai fazer.
Senti todos estes gostos na alma,
tudo enquanto o trânsito estava parado.
Para mim mesma bato palma
e vejo que antídoto do stress
é ser sempre um ser alado.